A gravidez começa na quietude. Como o mais simples dos encontros, um óvulo e um espermatozoide se unem em uma mágica fusão que, frequentemente, após todo um processo químico e físico, resulta em um bebê. Os primeiros momentos desse período que, para o corpo das mulheres levam aquela média reconhecida de nove meses, passam-se em silêncio. Depois, alguns sinais começam a transparecer o que realmente está acontecendo, como náuseas e mudanças físicas óbvias. Diferentemente para um número mais popular de grávidas do que imaginado, o tal silêncio pode se estender além do normal, tornando a experiência de gerar uma vida (ou mais!) uma grande surpresa.
De acordo com a psicóloga Tati Andreola, essa demora em descobrir a gravidez acontece por conta de um mecanismo de defesa chamado negação. “é uma forma de não querer reconhecer a possibilidade de estar grávida”, afirma, pontuando que a avaliação de cada caso se faz necessária. A negação da gravidez é um fenômeno pouco estudado por especialistas, mas normalmente descrito como o perfeito oposto à gravidez psicológica.
Para ela, quando se fala de culpa por uma gravidez se fala de uma sensação que não é momentânea, mas provavelmente advinda de uma história. “A culpa tende a se amenizar quando eu consigo compreender as razões que me põem nessa posição. Analisar a situação, por meio de terapia, leva a entender o que me levou a ter tal atitude. Não existem segredos, mas sim poder compreender o fato que está ocorrendo”, aponta.
A ginecologista e obstetra Sandra Maria Granetto de Lima informa que mulheres com ciclos menstruais irregulares e alterações hormonais podem demorar a perceber um atraso menstrual. Ainda, existem adolescentes que minimizam sintomas comuns à gravidez, como a tal ausência de menstruação, enjoos e dores nos seios, pelo simples fato de desconhecerem estas informações. Também, em algumas gestações o sangramento vaginal continua constante, mesmo que em menor intensidade, fazendo com que a mulher não perceba sua condição. Ainda, mulheres atletas ou acima do peso também podem não perceber as mudanças físicas.
Confira abaixo o depoimento de algumas mamães que demoraram um pouco mais para perceber que estavam grávidas.
Alessandra Rivieri Resmini
Tenho 45 anos e há quase três tive a maior experiência da minha vida. Após um sangramento anormal ao meu ciclo menstrual, visitei um ginecologista que me receitou tratamento de três meses com um remédio, pensando que era algum sintoma de pré-menopausa. Após quatro meses, a situação era a mesma. Ao consultar com meu médico, ele pediu uma ecografia transvaginal com urgência. Durante o exame, a técnica da ecografia parou o procedimento e disse que faria uma ecografia normal e explicaria o que estava acontecendo. Assim, descobri que estava entrando no quinto mês de gravidez e, na mesma hora, que seria mãe de um menino. Não sabia se chorava ou se dava risada, já que entrei no consultório esperando por uma notícia ruim, mas encontrei a melhor coisa da minha vida. Agora minha vida está completa, pois tenho três filhos lindos.
Ana Paula Peixoto Camargo
Engravidei com 30 anos e descobri entre o quinto e sexto mês de gestação. A reação inicial foi horrível, pois descobri durante um exame com um ultrassom precário da obstetra, marcado com urgência. A família ficou feliz, mas também assustada com o tempo de gestação. Não tive nenhum sintoma, emagreci e continuei tendo sangramentos, os quais considerei como menstruação. Para mim, a gestação foi curta e só fui entendendo o que era maternidade depois do meu filho ter nascido.
Christiane Gradaschi
Já tinha dois filhos grandes, de 16 e de 13 anos, quando descobri que estava grávida. Não senti nenhum sintoma, o que foi bem diferente das outras duas gestações, quando enjoei muito, sentia sono e desejos. Durante um dia normal de trabalho, senti fortes dores no abdômen e corri para o plantão. Na consulta, o médico constatou que meu útero estava grande e pediu se eu estava grávida. Respondi que não e nem poderia: tomava anticoncepcional de uso contínuo. Ele solicitou uma ultrassonografia para investigar melhor, já que possuo histórico de início de câncer no útero. No dia seguinte, voltei para o exame e descobri que estava grávida de uma linda menina, e que já estava de 21 semanas e cinco dias. Não estava preparada para ser mãe naquele momento, não tinha um relacionamento concreto com o pai dela na ocasião. Fiquei muito assustada. Ele aceitou melhor que eu o fato e me apoiou muito. Logo descobri que minha pressão estava alta e que teria uma gravidez de risco pela frente. Fiz repouso absoluto desde a 23ª semana até ela nascer, com 32 semanas. Ela ficou 23 dias na UTI e isso nos abalou, mas graças a Deus tudo deu certo e agora estamos aqui com uma filha linda e amada por todos.
Andressa Masotti
Engravidei com 27 anos e descobri a gestação com aproximadamente 24 semanas (seis meses). De início foi um choque, não sei explicar o que senti no momento. Para minha família também foi um susto, ainda mais quando fiz minha primeira ecografia e me surpreendi quando disseram que estava entrando no sétimo mês. Como não tive sintomas aparentes, nem de longe imaginaria e, além do mais, sempre estive acima do peso. Quando minha filha nasceu não tínhamos nada de roupa: descobrimos o sexo pela manhã e, no final da tarde, minha bolsa rompeu e minha filha nasceu de 31 semanas, ficando na UTI por 26 dias. Minha filha veio pra alegrar ainda mais meus dias. Fiquei um pouco abalada pelo fato de ser tão pequena e também por não sair da maternidade com ela nos braços. Mas aos poucos tudo foi se encaixando, se organizando. Hoje, minha pequena tem dois meses e 25 dias. Está ganhando peso e me ensinando o amor materno.
Isabel da Silva
A confirmação aconteceu quando eu estava no quinto mês. Eu era menor de idade e não tive a quem recorrer: tentei esconder da minha família, que era muito rígida. Na hora, foi um impacto muito grande, mas ainda assim a chegada do meu filho foi muito esperada e desejada. O maior susto ainda aconteceu por conta de uma infecção hospitalar que quase nos matou, mas tudo deu certo e hoje ele é um rapaz saudável de 19 anos.
Entrevistas: Chris Finger, jornalista e mãe da Lis (3 anos) e da Louise (4 anos)
Texto: Cíntia Hecher, jornalista.