Hoje à noite a Louise, de quatro anos, chegou apavorada no nosso quarto. Havia sonhado com a Cuca (aquela do Sítio do Piacapau Amarelo). Seguidamente ela tem pesadelo com monstros e criaturas assustadoras. Pela manhã ela me conta que eles insistem em visitá-la e amedrontá-la. Eu procuro encorajar, dizer que é para expulsar os danados dos seus sonhos, mas ela sempre arremata: ok mamãe, mas qualquer coisa eu te chamo.
Ela sabe, que sim, pode me chamar. Eu sempre estou ali, pronta para abraçá-la e colocar ela quentinha em meus braços. Tento sim mostrar que ela pode vencer seus próprios medos, mas na calada da noite, não consigo mandar de volta, sozinha e com medo para o quarto. Eu deixo ela ficar.
Minha mãe sempre foi diferente. Me lembro até hoje, eu com muito medo, voltando ao meu quarto, cobrindo a cabeça para não ver os monstros e pegando no sono sozinha. No máximo ela me deixava ficar no quarto da minha irmã, com o colchão no chão e dormia de mãozinha dada.
Aprendi, com o tempo, de não atormentar minha mãe com os meus medos e problemas. Até hoje eu sou assim. Dificilmente importuno minha mãe com algo de ruim que me acontece. Prefiro apenas conversar com ela sobre acontecimentos bons da minha vida, coisas prazerosas. Deixo os monstros da vida guardados debaixo das cobertas até hoje, ela não precisa vê-los, eu penso.
Não existe o certo ou o errado. Mas com as minhas filhas quero fazer diferente. Quero sim que elas dividam comigo os momentos de alegria e as tristezas. Quero que possam contar comigo quando esses tais monstros da fantasia ou os da vida real aparecerem. Prefiro assim. Louise e Lis podem me acordar, contem sempre comigo!
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